Trabalhava em uma empresa que não
oferecia nenhuma perspectiva de crescimento e desenvolvimento. Havia um grande
conflito em relação ao que fazer da vida. Um dilema quase indissolúvel. Juntar
dinheiro para comprar uma casa em longo prazo ou adiar esse sonho e ingressar num curso
superior em curto ou médio prazo? Nesta época, já namorava há alguns anos e isto tinha um peso na "decisão". A idéia mais viva e possível era juntar
dinheiro para comprar uma casa em longo prazo, apesar de ganhar relativamente
pouco. Diariamente ia desmotivado ao trabalho. Num dia comum, no meio do
expediente, dei-me conta de que não havia nada de errado no lugar, mas eu, sim,
estava no lugar errado. Foi o insight necessário para a mudança. A partir daí,
iniciei cursos em outras áreas e comecei a crer que era possível alterar as
condições presentes.
Fim de expediente. Saí do
trabalho e, ainda na calçada da empresa, recebi e li uma mensagem no celular. A
mensagem era de um site de empregos da Internet. Tratava-se de uma vaga de
emprego. O curioso era que eu não havia me cadastrado naquele site. Nem sabia
de sua existência, na verdade. Coincidência? Sendo ou não, resolvi cadastrar-me
no site ao chegar em casa. Fiz o cadastro e paguei a taxa no banco. Ao
visualizar a vaga, percebi que a empresa era bem próxima de casa, porém a vaga era exclusivamente para pessoas do sexo feminino. Liguei para confirmar e fui informado de que a vaga era,
realmente, para mulheres. Tudo bem. Seguiu-se a vida e continuei naquele
trabalho.
Cerca de um ou dois meses depois,
ao chegar em casa, minha mãe me informou que uma universidade
havia entrado em contato comigo e que eu deveria ligar para tratar sobre uma
vaga de emprego. Estranhei, pois não havia manifestado interesse em trabalhar
lá. Na realidade, a idéia de trabalhar lá nunca havia ocorrido ao meu pensamento.
Então, liguei, marquei uma entrevista, mas não desliguei o telefone sem antes
perguntar onde tinham conseguido meu contato. Disseram que haviam visualizado
meu currículo através do tal site de empregos da Internet. Aquele que relatei há
pouco. O qual naquela ocasião já havia até caído no esquecimento.
A vaga era temporária, porém com
possibilidade de efetivação no fim de seis meses. Não hesitei e arrisquei.
Passando nos testes e entrevistas, pedi demissão da outra empresa e ingressei
nesta universidade. Teria a possibilidade de ter uma bolsa de cem por cento se
fosse efetivado. Foi o que aconteceu. Ingressei, finalmente, no ensino superior
em Psicologia. Se a idéia de estudar em uma faculdade era um entrave, em termos
financeiros, para a compra de um imóvel, agora "este problema estava resolvido",
pois não iria pagar para estudar e ainda iria ganhar um pouco mais do que
ganhava na outra empresa.
Psicoterapia é uma atividade altamente
recomendável para estudantes do curso de Psicologia. Completados quatro anos de
curso, iniciei a minha psicoterapia. Era um momento difícil da formação, pois
havia iniciado os atendimentos na clínica, tão ansiosamente esperados. Suporte
era realmente necessário.
Certo dia, logo no início do processo psicoterapêutico, ao contar esta
história para a psicóloga, relatando exatamente a mudança de emprego e as expectativas do que poderia fazer no futuro - estudar ou comprar um imóvel em longo prazo –, recebi
uma mensagem no celular. Li a mensagem apenas ao sair do consultório. Era um
anúncio de imóvel em Santa Catarina. O texto da mensagem descrevia o imóvel,
muito atrativo por sinal. Eu nunca pesquisei imóveis fora de São Paulo. Nunca
me cadastrei em sites de imóveis. Não dei o mínimo valor à mensagem e fui para
a aula. No meio da aula, pensando nos conteúdos da sessão daquele dia, em que
relatei sobre a mudança de emprego, sobre a mensagem misteriosa que acabou me
direcionando a um emprego melhor e ao ensino superior, tive um insight. Lembrei
que foi no momento deste relato à psicóloga que meu celular tremeu no bolso,
com uma mensagem enviada, aparentemente, sem motivo, mas que tinha em seu
conteúdo algo totalmente relacionado ao que eu falava pra ela naquele momento. Isso fazia todo sentido. Isto
foi, provavelmente, um grande exemplo de sincronicidade. Carl Gustav Jung
teorizou este conceito. O autor postulou que a sincronicidade se configura como
uma espécie de coincidência significativa, onde uma coincidência, no tempo, de
dois ou vários eventos, sem relação causal pode ter o mesmo conteúdo
significativo. Logo,
ao ter recebido a segunda mensagem “misteriosa”, num contexto significativo,
assim como havia recebido a primeira (também num contexto significativo), percebi que elas poderiam ser consideradas,
por mim, como sinais indicativos do caminho a seguir. Percebi que poderia
continuar e que estava no caminho da minha evolução. Estar preparado e atento aos acontecimentos diários pode ser determinante na compreensão deste fenômeno. Se eu não estivesse
atento (psiquicamente disponível), talvez a segunda mensagem passasse despercebida e
eu não teria compreendido seu possível significado. Seria apenas uma mensagem enviada por
engano. Considero que foi muito mais que isso. Uma mensagem (em seu mais amplo entendimento) de profunda significação.
Sincronicidade: "(...) a simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo, e em certas circunstâncias, também vice versa".
A última frase, entre aspas, é de Carl Gustav Jung.
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